Tento fechar-te numa pequena caixa. E tento por todos os meios que lá te mantenhas, espreitando de tempos a tempos mas sem nunca de lá sair.
Porque tu não serves para nada. O meu avô sempre disse que não serves para nada...
Mas a pequena caixa não chega para te conter. És grande, sempre foste, e cada dia que passas dentro dessa caixa cresces mais um bocadinho.
Afinal acho que não há caixa, nem pequena nem grande, que te contenha...
Mas eu não posso ceder, ou talvez não queira apenas.
É que tu não serves para nada...
Mas se tu não serves para nada, porque é que a tua falta se torna, dia após dia, cada vez mais agonizante?
E se me fazes falta, porque é que tenho eu que te por numa caixa?
É porque o avô diz que não serves para nada? É porque os outros dizem que sou eu que não sirvo para ti?
Eu acho que sirvo... Dantes servia, e toda a gente dizia que sim...
Então porque é que eu não sirvo agora? E porque é que não serves tu para mim?
Eu acho que talvez eu tenha mudado com o tempo...
Talvez a tua falta te tenha tornado mais inútil, mesmo sendo ainda um bocadinho necessário...
É que tu fazes-me falta, sim. Mas há coisas que fazem muito muito mais.