terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Voltas a mote

Catarina bem promete;
Eramá! como ela mente!


Catarina é mais fermosa
Pera mim que a luz do dia;
Mas mais fermosa seria,
Se não fosse mentirosa.
Hoje a vejo piedosa;
Amanhã tão diferente,
Que sempre cuido que mente.

Catarina me mentiu
Muitas vezes, sem ter lei,
E todas lhe perdoei
Por uma só que cumpriu.
Se, como me consentiu
Falar-lhe, o mais me consente,
Nunca mais direi que mente.

Má, mentirosa, malvada,
Dizei: pera que mentis?
Prometeis, e não cumpris?
Pois sem cumprir, tudo é nada.
Nem sois bem aconselhada;
Que quem promete, se mente,
O que perde não no sente.

Jurou-me aquela cadela
De vir, pela alma que tinha;
Enganou-me; tinha a minha,
Deu-lhe pouco de perdê-la.
A vida gasto após ela.
Porque ma dá, se promete;
Mas tira-ma, quando mente.

Tudo vos consentiria
Quanto quisésseis fazer,
Se esse vosso prometer
Fosse por me ter um dia.
Todo então me desfaria
Convosco; e vós, de contente,
Zombaríeis de quem mente.

Prometeu-me ontem de vir,
Nunca mais apareceu;
Creio que não prometeu
Se não só por me mentir.
Faz-me, enfim, chorar e rir:
Rio quando me promete,
Mas choro quando me mente.

Mas pois folgais de mentir,
Prometendo de me ver,
Eu vos deixo o prometer,
Deixai-me vós o cumprir:
Haveis então de sentir
Quanto fica mais contente
O que cumpre que o que mente.


Luís Vaz de Camões






Vou estudar Matemática, cumprir a minha parte da promessa.

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